Assassinato de irmão de ativista antidrogas põe França em alerta
O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu, nesta terça-feira (18), que se amplifique o combate ao tráfico de drogas na França, depois de várias tragédias vinculadas a esta atividade ilegal, como o assassinato do irmão de um jovem ativista antidrogas em Marselha.
Macron se reuniu em caráter emergencial com seu governo dias depois de uma visita de seu ministro das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, a países da América Latina para reforçar a cooperação nesta região, onde os Estados Unidos bombardeiam lanchas suspeitas de transportar drogas.
"Comprar cocaína" ou "cannabis" é se tornar "cúmplice", afirmou Macron durante uma visita a Berlim, onde defendeu a adoção de uma abordagem "local e internacional", inspirada na luta "contra o terrorismo" para combater o narcotráfico.
Nos últimos anos, a França registrou forte violência associada ao tráfico de drogas, que deixou 110 mortos e 341 feridos em 2024.
Marselha, às margens do Mediterrâneo, simboliza o fenômeno do narcotráfico na França. Desde janeiro, ao menos 15 pessoas morreram nesta cidade do sudeste e em seu departamento por crimes relacionados ao narcotráfico, segundo um balanço da AFP.
Mas o assassinato, na última quinta-feira, do irmão do ativista ambientalista e antidrogas Amine Kessaci recolocou esta cidade portuária sob os holofotes. O enterro de Mehdi Kessaci, de 20 anos, está previsto para esta terça-feira, antes de uma marcha silenciosa no sábado em Marselha.
- "Sentimos medo" -
"É um crime de intimidação que está muito diretamente ligado" ao narcotráfico e representa "um ponto de inflexão", afirmou o ministro do Interior, Laurent Nuñez, após a reunião no Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa, em Paris.
Amine Kessaci, de 22 anos, tornou-se ativista e membro do partido ecologista após perder um irmão mais velho em 2020 em um acerto de contas. Seu corpo foi encontrado carbonizado dentro de um veículo.
Para o criminologista Jean-Baptiste Perrier, o crime organizado é mais perigoso do que "há 10 ou 15 anos". "Os grupos criminosos relacionados hoje ao narcotráfico não são máfias nem cartéis, mas utilizam os códigos de violência dos cartéis", acrescentou.
No caso de Mehdi, uma moto parou ao lado de seu carro quando ele acabava de estacionar. "O passageiro na garupa da motocicleta atirou várias vezes na vítima", explicou na sexta-feira o procurador de Marselha, Nicolas Bessone.
Nesta terça-feira, flores brancas se acumulavam no local do crime. "Perder dois filhos assim é desumano", lamentou a professora aposentada Christine Didon, com os olhos avermelhados.
Este assassinato chocou o Coletivo de Famílias de Vítimas em Marselha, que agora temem falar em público.
"Até agora, tentávamos convencer as mães a falar com a mídia, mas agora, o que faremos? (...) Sentimos medo", afirmou Atika Sadani, que perdeu uma sobrinha.
- "Erradicar o narcotráfico" -
Durante a reunião de emergência, Macron convocou o governo a "amplificar" o combate ao tráfico de drogas, sobretudo porque o tema está ganhando destaque no debate público antes das eleições municipais em março de 2026.
A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, urgiu o governo a "se mexer" e o candidato do seu partido à Prefeitura de Marselha, Franck Allisio, pediu a ativação do "estado de emergência" na segunda cidade da França.
Segundo a Presidência francesa, o objetivo da reunião é implementar e reforçar a lei contra o narcotráfico promulgada em junho, que prevê a criação de uma Promotoria Nacional contra o crime organizado (Pnaco) a partir de janeiro.
Esta legislação, inspirada nas leis antimáfia italianas, também permitiu a criação de dos presídios de segurança máxima para os narcotraficantes mais perigosos, como Mohamed Amra, cuja fuga cinematográfica durante uma transferência, em 2024, custou a vida de dois agentes.
Mas a França também busca "erradicar o narcotráfico", nas palavras de seu chanceler. Barrot propôs na semana passada a criação de uma academia regional na América Latina e no Caribe para a formação no combate a esta atividade criminosa.
O ministro apresentará na quinta-feira, em Bruxelas, uma proposta para implementar um "regime transversal" de sanções europeias contra atores do crime organizado.
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D.Brown--SFF